No Dia Mundial da Saúde Mental, comemorado hoje (10), o Brasil conta com mais 93 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – o que eleva para 1.291 o total de serviços implantados em todas as unidades da federação. Assim, o país passa a ter 53% da sua população cobertos por serviços de atenção à saúde mental, aumento de 31% em relação a 2002. Os novos CAPs foram anunciados nessa quinta-feira (9) pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e representam um investimento anual de R$ 22,3 milhões. Temporão enviou mensagem aos participantes da cerimônia realizada no Ministério da Saúde em que destacou a participação do governo brasileiro no lançamento do Programa de Ação sobre Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra, na quinta-feira (9), no qual foi reconhecida a importância da experiência brasileira na ampliação do acesso ao tratamento das pessoas com transtornos mentais. Para o ministro, esse reconhecimento se deve à reorientação do modelo assistencial que propiciou importantes avanços. Ainda assim, Temporão afirmou que é preciso qualificar cada vez mais a rede dos CAPS. E anunciou: “Nesse sentido, já repassamos, entre 2007 e 2008, incentivos para a supervisão de 380 CAPS por meio de editais. Será aberto novo edital, ainda em 2008, para mais 150 serviços. Com isso, quase metade dos CAPS receberá incentivos para sua qualificação”. Durante a comemoração, às 10h, no auditório Emílio Ribas do Ministério da Saúde, foi lançado o edital, no valor de R$ 1,4 milhão, para financiar ações relacionadas à redução de danos à saúde por uso de álcool e outras drogas. O recurso se destina às secretarias estaduais e municipais de saúde, universidades públicas, organizações da sociedade civil e não governamentais sem fins lucrativos que desenvolvem projetos na área. As propostas ao edital devem ser apresentadas até 10 de novembro. Ainda serão destinados R$ 100 mil para projetos que abranjam dois ou mais estados e até R$ 60 mil para os que contemplem três ou mais municípios. Os editais completos podem ser conhecidos por meio do site www.aids.gov.br ou www.ccs.saude.gov.br. Ao abrir a cerimônia, a secretária substituta de Atenção à Saúde, Cleusa Rodrigues da Silveira Bernardo, destacou os avanços ocorridos na área que romperam com a marginalização dos que sofrem de transtorno mental. Ela exaltou conquistas como o “Programa de Volta para Casa” e a inclusão de um profissional em saúde mental nas equipes de Saúde da Família. PRIORIDADE E AVANÇOS - Estima-se que 15% da população mundial (975 milhões) precisem de atendimento em saúde mental. No Brasil, 28,3 milhões de pessoas sofrem de algum transtorno mental. A alta prevalência desses transtornos, o seu crescimento em todos os países e segmentos sociais, além da interface especialmente com as drogas e violência, tornam a questão uma das prioridades para a saúde pública. Porém, o acesso ao tratamento ainda não está garantido a todos, especialmente, nos países em desenvolvimento. Essa constatação levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a propor, para este ano, o debate sobre o tema “Saúde mental como prioridade: melhoria dos serviços com participação social e cidadania”, com o objetivo de estimular reflexão sobre a melhoria do acesso ao tratamento e redução das iniqüidades. A Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde reconhece que, embora o modelo assistencial em saúde mental esteja em um estágio de transição, há um conjunto de avanços a ser festejado no dia 10 de Outubro. Cita como exemplos a expansão do Programa de Volta para Casa, a ampliação das Residências Terapêuticas, os apoios dados às experiências de inclusão social pelo trabalho e a multiplicação dos Centros de Convivência e Cultura. Somam-se a essas conquistas os esforços para a construção de políticas de atenção integral para os usuários de álcool e outras drogas e à saúde mental de crianças em adolescentes. No fim de 2007, a saúde mental foi eleita uma das prioridades do Pacto pela Saúde. Em 2008, entre as várias ações importantes, uma conquista especial foi a publicação da Portaria 154/08, que cria os Núcleos de Atenção à Saúde da Família (Nasf), com a inclusão de, pelo menos, um profissional da saúde mental nas Equipes de Saúde da Família. A aprovação desta recomendação é resultado de intenso trabalho da Coordenação de Saúde Mental, junto ao Departamento de Atenção Básica e conselhos nacionais de secretários estaduais e municipais de Saúde (Conass e Conasems), para que a transversalidade da saúde mental merecesse destaque na portaria, por conta da magnitude epidemiológica dos transtornos mentais, dos problemas relacionados ao uso do álcool e outras drogas e da necessidade de preparação das Equipes de Saúde da Família para as ações em saúde mental. MENOS DANOS - O sucesso da política de redução de danos junto à epidemia de Aids no Brasil pode ser comprovada pelos números. Os casos de Aids classificados na subcategoria de exposição usuários de drogas injetáveis (UDI) vêm diminuindo em quatro regiões do país, com exceção da região Norte, que se mantém estável em baixos patamares (em média 41 casos por ano de 2000 a 2006). No Brasil, em 2000, a proporção de casos por UDI foi de 13%. Esse número caiu para 7% em 2005, mostrando tendência de decréscimo da subcategoria UDI. A tendência é mais acentuada entre homens (de 17,9% em 2000 para 9,5% em 2005) do que em mulheres (de 6,1% em 2000 para 3,7% em 2005), embora o número de casos em UDI do sexo masculino ter sido sempre maior. No período de 1982 a junho de 2007, foram notificados 64.467 casos de aids classificados na subcategoria de exposição usuários de drogas injetáveis (UDI), representando 19,7% do total de casos em homens e 9,1% em mulheres. Junto com as boas-novas, o Programa Nacional de DST e AIDS e Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde lançam ainda duas publicações para apoiar o trabalho de profissionais de saúde e dos redutores de danos entre os usuários de álcool e outras drogas. O objetivo do material é melhorar o acolhimento dos usuários dentro do sistema de saúde. Além disso, as publicações visam contribuir para a qualificação do atendimento e combate ao preconceito, estigma e discriminação. INSERÇÃO SOCIAL - O Ministério da Saúde destaca também a redução dos leitos psiquiátricos de forma planejada e programada. Hospitais psiquiátricos de baixa qualidade também foram fechados ou estão em processo de descredenciamento do Sistema Único de Saúde. Em contrapartida, ocorreu a expansão e a consolidação dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), um dos pilares do processo de eliminar o isolamento social dos pacientes portadores de transtorno mental. A internação desses pacientes em instituições psiquiátricas passa a ser a última alternativa. Apesar dos desafios impostos por essa mudança, nos primeiros nove meses de 2008, foram repassados 56 incentivos para a implantação de SRTs, dos quais 18 módulos já estão em funcionamento e 38 se encontram em fase de implantação. Em setembro deste ano, o ministério contabilizava 502 módulos em funcionamento, 134 em fase de implantação. No total, são 636 módulos em todo o país, com 2.594 moradores. Na mesma linha dos SRTs, o Programa de Volta para Casa estabelece o auxílio-reabilitação psicossocial a egressos de longas internações psiquiátricas. O programa busca eliminar o isolamento social dos pacientes e ainda vem ser firmando como uma importante experiência de sucesso do Sistema Único de Saúde. O depósito do auxílio-reabilitação em contas bancárias dos beneficiários faz parte da estratégia de reabilitação psicossocial e da (re)conquista dos direitos civis da parcela da população que, por um longo período, esteve internada em hospitais psiquiátricos e em manicômios judiciários.